"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

25 abril 2005

LIVROS DO VESTIBULAR 2006 DA UFMG

ANÁLISE LITERÁRIA DOS LIVROS DO VESTIBULAR 2006 DA UFMG
MELHOR IMPOSSÍVEL
ACOMPANHEM:

17 abril 2005

HÖLDERLIN: UMA ALMA DESPEDAÇADA

Filho de pastor protestante, quis seguir a vocação paterna. Em 1780 estudou teologia na Universidade de Tubingue, com colegas que se chamavam Hegel, Schelling. Deixou de crer. Conhecia Rousseau, Goethe, Schiller e o romantismo embriagava-o. Gostava de natureza misteriosa, da lúcida Grécia. Ama-as simultaneamente e sonha em unir suas belezas numa obra alemã. Era pobre e tinha que levar a dura vida do poeta necessitado. Professor, suportou o aborrecimento das casas ricas, em quase todas desprezado e em uma, muito querido: satisfação logo seguida pela desilusão. Volta à vila natal, onde as pessoas e o ar são doces. Trabalha, escreve todo o tempo de que dispõe, mas pesa-lhe viver à custa dos seus, e afasta-se. Manda imprimir alguns versos, e o público não gosta desses belos poemas, onde o gênio de um desconhecido faz os deuses do Olimpo passar pelas sombras das florestas renanas. O infeliz Hölderlin sonha criações mais vastas, mas retém o sonho: a Alemanha é um mundo, e a Grécia um outro mundo. È preciso a força de um Goethe para as unir e fixar as palavras eternas de Fausto, raptor de Helena. Hölderlin escreveu fragmentos de um poema em prosa. Seu herói é um jovem grego que se lamenta da ruína de sua raça, e, frágil precursor de Zarathustra, clama pela renascença de uma valorosa humanidade. Compôs três cenas de uma tragédia cujo herói é Empédocles, tirano de Agrigente, poeta, filósofo, grande inspirador das multidões, grego isolado, por sua própria grandeza, entre os gregos, mágico que, possuindo toda a natureza, cansa-se das satisfações que a vida pode oferecer e se retira para o cimo do Etna, deixando a família, seus amigos, seu povo que o quer, e, um dia, ao nascer da noite, atira-se na cratera. É obra de fôlego: Hölderlin abandona-a. A tristeza o enfraquece e exalta. Quer deixar a Alemanha, onde tanto tem sofrido, e libertar os seus de sua vida incômoda. Propõem-lhe um emprego em bordeis, na França, e ele desaparece. Seis meses mais tarde, volta ao lar, vestido de farrapos, queimado pelo sol. Interrogam-no, mas ele nada diz. Procuram informar-se e, após grande trabalho, vêm a saber que ele atravessou a França a pé, sob o sol de agosto. Sua inteligência está perdida. Ele acaba-se, abisma-se num torpor que dura quarenta anos. Morre em 1843.

08 abril 2005

MISSIVAS ENTRE NIETZSCHE E WAGNER

Vou publicar sempre que possível, correpondências entre pessoas que marcaram o pensamento ocidental. As cartas revelam muita coisa, sobre a pessoa e as suas idéias. Vejam por exemplo, estas duas correspondências:
Querido amigo,
Quanto a mim, grito: "É isso mesmo!" Você atingiu a verdade e tocou o ponto justo com um agudo dardo. Espero com admiração a continuação do seu trabalho e das lutas que você há de travar com o dogmatismo vulgar. No entanto, você me causa cuidados e desejo, de todo o coração, que não quebre o pescoço. Quero, portanto, aconselhá-lo a não expor seus audaciosos pontos de vista, dificilmente aceitáveis, em pequenas brochuras que pouco ajudam. Sinto que você está profundamente penetrado por suas idéias; é preciso reuni-las para nos dar um livro volumoso, de mais vasta ação. Então, você encontrará e dirá a palavra justa sobre os divinos erros de Sócrates e de Platão, esses criadores, tão maravilhosos, que nós mesmos que discordamos deles, ainda os devemos adorar. Oh, meu amigo! As palavras se elevam como hinos quando consideramos a incompreensível harmonia dessas essências estranhas ao nosso mundo! E que orgulho nos anima, que esperança, quando examinando-nos a nós mesmos, sentimos forte e claramente que podemos e devemos realizar qualquer obra para eles mesmos inacessível!
Até breve,
Nietzsche
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Caro amigo,
Como é bom a gente poder escrever tais cartas! Não existe ninguém, hoje, com quem eu me possa entender tão bem como com você, excetuada uma única (*). Deus sabe que seria de mim sem isso! Mas ele permitirá que nenhum projeto melhor me tente e que possa dispor de muito tempo, para que me abandone ao prazer de lutar com você contra o "socratismo"; porque, para esclarecer um tal problema devo renunciar a toda criação. É preciso que dividamos o trabalho. Você pode muito, para mim. Pode se encarregar de metade do trabalho que o destino me designou. E, fazendo isso, talvez cumpra todo o seu destino. Eu sempre me sai mal de todas as experiências filológicas. Você também se saiu mal das experiências musicais – é bem isso. Como músico, você se tornaria, pouco a pouco o mesmo que eu me tornaria se me obstinasse em realizar trabalhos de filologia. Mas a filologia me ficou no sangue; como musicista, ela é que me dirige. Você, que é filólogo, continuando a sê-lo deixe-se dirigir pela música. Dou um sentido muito sério ao que estou dizendo. Soube por você, como são baixas as preocupações a que se deve restringir hoje um filólogo de profissão – e você soube, por mim, em que inominável chiqueiro tem que se agitar hoje um verdadeiro e "absoluto" musicista. Exponha o que deve ser a filologia e ajude-me a preparar esta grande "Renascença" na qual Platão abraçará Homero e Homero, penetrado pelas idéias de Platão há de ser, pela primeira vez, o sublime Homero...
Wagner
(*) Senhora Cosima Wagner
Correspondências entre Nietzsche e Wagner em – A vida de Frederico Nietzsche – Daniel Halévy. Pág. 51-51

02 abril 2005

PEDAÇO DE RETRATO

Não gosto de falar em nada sobre mim, mas vou abrir uma exceção, para dizer um pouco, sobre coisas de que eu gosto. Ou seja, dos meus quatro prazeres terrenos.
A primeira é conversar com o Éder, ou melhor, de ouvi-lo falar, pois ele é completo, de pensamento muito refinado e peculiar, com quem se pode conversar sobre tudo, mesmo de coisas banais. No mundo das idéias, ele é aquele ô Antonico, que faz a massa comer do biscoito fino que fabrica.
A segunda é ler. A leitura é o meu combustível. Considero-a um instrumento capaz de jogar luz na escuridão de nossas vidas e é um alento para a solidão de nosso tempo.
A terceira é o meu cigarro, que hoje venho tragando, através principalmente da televisão, em função de quase não ter tempo para nada: ouvir o que as pessoas estão pensando sobre um monte de coisas. É claro que não ouço qualquer um. Adoro ver entrevistas, palestras, debates, documentários, participar de congressos. Isto é tão sério, que hoje vendo o programa Starte, em que falava de espaços construidos para debater idéias, como a Casa do Saber e a Casa das Rosas, esta criada com o acervo da biblioteca do poeta Haroldo de Campos, em São Paulo, um professor disse que em Paris, existe um espaço em que oferecem 365 palestras no ano, ou seja, uma para cada dia do ano, inclusive no natal. Com certeza para mim, “isto é o paraíso. Quando morrer, quero ir para lá”.
A quarta é Minas, tenho uma verdadeira obsessão por Minas Gerais, acho-a linda, suas montanhas são o meu limite. Não me interessa em quase nada, o que está além delas. Minas é o meu país. Desejo conhecer cada centímetro, dessa minha nação.