"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

01 dezembro 2007

09 setembro 2007

IDÉIAS PARA SE PENSAR E FAZER UM BRASIL MELHOR I

Judiciário: idéias colhidas da entrevista concedida e publicada pelo jornal o Globo no dia 27/05/2007, do Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, Rodrigo Collaço:

“A sociedade tem razão de cobrar, porque realmente não tem havido julgamento em tempo razoável dessas causas (causas que envolve corrupção)”.

“Os juizes precisam ser independentes para julgar, mas o Judiciário não precisa ser independente do sentimento do povo”.

PROPOSTAS

“O poder judiciário deve ter política judiciária para fazer frente as demandas da sociedade, por exemplo, julgamento de processos que dizem respeito a corrupção”.

“Existem experiências positivas. Uma delas é a do Rio Grande do Sul, onde há uma câmara especializada do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos e vereadores. Não há estado no país que tenha mais prefeitos e vereadores punidos que o Rio Grande do Sul, porque lá houve especialização e os desembargadores têm apoio técnico no tribunal para julgar esses casos.”

“A gente percebe que a elite brasileira nunca se preocupou com a exposição do preso de calção, sem camisa, sendo puxado pelo cabelo para ser exposto à televisão. Agora, com a mudança de foco da polícia, as pessoas começaram a se questionar se não deve haver proteção da intimidade. As pessoas passam a ter uma conduta diferente porque estão, sendo atingidos segmentos que eram protegidos pela polícia e pelo judiciário.”

31 agosto 2007

A DITADURA DO MÉTODO

No Brasil, um dos principais conflitos, não explicitados, que se manifestam na educação é entre professores e os ditos especialistas que atuam na educação (pedagogos, psicólogos, supervisores, inspetores, etc). A causa principal dessa desavença é quanto ao método, que em vez de ser utilizado pelo professor de acordo com seus interesses pedagógicos ou mesmo pela afinidade que tem com um ou outro método, é imposto a ele pelas instituições de ensino, visando homogeneizar o “processo de aprendizagem” dos seus alunos.

É intensamente divulgado aos profissionais de educação, ficando até saturado a expressão, que a “missão fundamental de quem ensina é ajudar os alunos a pensarem por si próprios”. Fico pensando como! Pois se não é permitido a liberdade ao professor de escolher quais as estratégias, métodos, a didática mais adequada para ensinar determinado conteúdo, como ele poderá ensinar algo que ele não tem? A liberdade da escolha desses processos que envolvem a mediação do conhecimento do professor para o aluno é tão importante quanto a liberdade teórica da discussão entre docente e o discente dos conteúdos em que o professor é especializado. Uma expressão colhida num dos livros estruturadores do pensamento ocidental, pode representar bem esse imbróglio educacional, implantado com a supremacia dos especialistas sobre o ato de ensinar: “por ventura pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco?”[1] que é a meu ver essa expressão muito bem representada pelo quadro de Pieter Brueghel (ao lado).

Os professores reclamam e com razão que especialistas que nunca pisaram numa sala de aula, porém dominam um certo número de teorias que norteiam os rumos da educação, tiraram-lhes a liberdade. Liberdade que é a essência da profissão do professor, se ele não se sentir livre para ensinar, dificilmente os objetivos serão atingidos.

O que é mais grave, é que normalmente esses especialistas, com respaldo institucional, impõem ao professor o método da moda, ou aquele com a qual a instituição sente certa afinidade. Em contrapartida os especialistas, juntamente com as faculdades de educação, fincam pé nas suas “verdades absolutas”, partem para desqualificação dos professores que reagem a ditadura do método de ensino, ou são indiferentes a eles. Aí o resultado é esse que nós estamos acompanhando de camarote, dentro e fora das escolas.

Logo, percebe-se que esses profissionais não se entendem, um acha que manda e os outros fingem que obedecem e os alunos no meio disso, principalmente aqueles que não querem saber de nada, infelizmente a grande maioria, saem ano após ano tão ignorante quanto quando entraram na escola.

Professor que é professor não precisa de nenhuma babá pseudo-intelectual direcionando o seu trabalho. Ele é capaz de discernir qual o método é mais adequado para utilizar em sala de aula. Os profissionais da educação, devem ser suporte para esse professor e para os alunos. Os atores principais são professor e alunos o resto são apenas coadjuvantes do processo educacional. Porém quando tentam assumir um papel que não lhes são oportunos a educação sai perdendo em muito. E com isso toda a sociedade.

Vamos fazer uma analogia: um hospital, um médico, um paciente. De repente, José (paciente) não se sentindo bem, resolve procurar um hospital e marca uma consulta com um especialista. É atendido e o médico utiliza todos os procedimentos que ele julga necessários para curar o José. Até aqui tudo bem, não é! Pois vejamos o que poderia acontecer com José se neste tripé fosse aplicado o princípio gerencial atual que é aplicado nas escolas, com alunos e professores. José procura o hospital, marca a consulta com determinado especialista, este lhe atende, faz o diagnóstico, vêm um monte de especialistas, que não são médicos, e obrigam o médico que atendeu José a adotar determinados procedimentos. Esses procedimentos foram homogeneizados para todos os pacientes que qualquer médico venha atender, ou seja, é como indicar uma única medicação independente da moléstia que o paciente apresente. Se um paciente encontra-se num quadro de hipertensão e um outro tem câncer, os médicos, mesmo tendo especialidade distinta são obrigados a utilizar os mesmos medicamentos, os mesmos exames, o mesmo tratamento. Entendeu o que vem ocorrendo nas escolas brasileiras já há muito tempo?

Uma solução simples para isso é proporcionar a liberdade essencial para o professor de utilizar o método que lhe for mais conveniente. Quanto aos especialistas que vão para a sala de aula dos cursos de formação de professores e aplicam lá o método que desejarem. Isso é a chamada práxis.

[1] Novo Testamento, Lucas, 6:39.

08 julho 2007

A MORTE POR INANIÇÃO INTELECTUAL DE UMA CIÊNCIA



A antropologia, dentro dos diversos modelos de análise que desenvolveu ao longo de sua estruturação epistemológica, chegou a conclusão que não é prudente fazer a análise de um ‘objeto’ fora do seu contexto. No entanto, não acatarei essa premissa. Farei a crítica do vídeo aqui exposto, desconsiderando todo o seu contexto, do qual desconheço. Por este motivo poderei cometer equívocos, porém ao assisti-lo vi que era um bom exemplo para discorrer sobre os erros cometidos pela psicologia, o que vem fazendo com que perca a sua identidade, e o pior, passando a atuar de maneira banalizada e medíocre.

Ao ver o filme tive um acesso de horror, misturado com pena e decepção. Espera-se que um psicólogo, ao fazer uma intervenção num grupo, que tenha o mínimo de compreensão sobre os indivíduos do qual vai atuar. Quando vejo como se trabalha com grupos que se encontram dentro de instituições, muitas vezes desprovidos de tantas coisas essenciais e simples, no caso de asilos, por exemplo, é muito comum, perceber-se com poucos minutos de observação, como normalmente são grupos fragmentados. Eles se isolam do contato entre eles próprios.

No entanto, com o intuito de inverter esse quadro, muitos profissionais da psicologia costumam ignorar que nós seres humanos vivemos fases de vida, e isso é muito significativo para a nossa subjetividade. Não há coisa mais grotesca com o sujeito que ignorar isto. As crianças querem ser crianças; os adolescentes querem ser adolescentes; adultos querem ser adultos; e quando chega-se na velhice, o saudável é que se valorize essa nova etapa da evolução do indivíduo. As pessoas ao confundir, muitas vezes, velhice com morte e decadência procuram criar alternativas que exclua essa etapa da vida e passam a sugerir a regressão às pessoas, para um tipo, principalmente, adolescente contemporâneo. Traduzindo a mensagem que pude perceber com o vídeo, “olha, esqueça a velhice e vamos ser eternamente jovens”.

Eu duvido muito que esses senhores e senhoras que aparecem no vídeo, se fosse perguntados que tipo de comemoração que gostariam de fazer, se eles sugeririam esse tipo de festa que foi apresentada. Eles têm uma história do qual viveram e vivem e com certeza gostariam de expressá-la, porém são coibidos dentro desse modelo de sociedade de viver essa fase, junto com outras gerações, pois a velhice incomoda os jovens e os adultos e eles não querem saber de nada que os façam lembrar dela. O asilo é na verdade um local de exclusão de um fato que a nossa sociedade não suporta: a finitude. E como se confunde velhice com isso, escolheu-se um lugar em que pudessem afastar para bem longe a realidade que tanto se ignoram. Desta forma, senhores e senhoras são coagidos em nome da inclusão, a passar por esses constrangimentos de dançar um protótipo da "dança da garrafa brasileira".

A principal ferramenta de trabalho do psicólogo é a escuta. Porque é por meio dela que se pode compreender o sujeito, e assim, a partir daí, indicar algumas alternativas que visem a promover o potencial individual de cada um. O papel do psicólogo num primeiro momento é anular-se como sujeito, colocar-se em condições de igualdade ao sujeito ou grupo que se apresenta, para desta maneira iniciar o tratamento ou a intervenção. E não ficar reproduzindo estereotipo que a tantos faz sofrer, ao invés de libertar as pessoas, aumentam ainda mais o número de algemas.

É lamentável, mas a psicologia vem prestando um desserviço às pessoas.

28 junho 2007

CITAÇÕES

“Uma fronteira não é o ponto onde algo termina, mas, como os gregos reconheceram, a fronteira é o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente.”

Martim Heidegger, OLHAR, p. 194

25 abril 2007

FESTA PARA PÁ E LUTO PARA CÁ

Nós aqui no Brasil, diante de diversos problemas, muito deles herdados do país que inspirou o Chico na composição de "Tanto Mar" (abaixo), estamos precisando fazer a nossa própria festa de libertação do povo brasileiro, na construção de uma nação próspera e sem tantas discrepâncias sociais. Que tenhamos uma elite (seja financeira, industrial, comercial...), mas uma que se preocupa com o desenvolvimento e o bem estar do país; que tenhamos trabalhadores, mas também comprometidos com o mesmo ideal. Quero que seja "primavera" aqui. São 507 anos, que comemoramos no dia 22 de abril, de invernos tenebrosos de EXPLORAÇÃO. Aqui não se comemora muito essas datas, ainda não somos um povo, infelizmente, não temos orgulho de nosso país e sim vergonha. Os 507 anos, nem se quer foi lembrado pelo povo, pois estamos preocupados com mais um escândalo de corrupção e acompanhando as mesmas estratégias de canalhas corporativistas, para que nenhum dos suspeitos seja punido, da mesma forma que tantos outros do poder legistativo e do executivo sairam ilesos de um escândalo que ainda nem esfriou. As instituições públicas aqui, estão cada vez mais corruptas. Não se discute melhorar nada, parece que o projeto de povo se encontra anestesiado vendo os atuais abutres criando estrátegias para manter um sistema doente que impede que sejamos um povo brasileiro. Estamos carentes, será que ainda tem um pouco de alecrim para nos mandar?



1975
(primeira versão)*

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.


Segunda versão - 1978
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
CHICO BUARQUE DE HOLANDA

25 DE ABRIL EM PORTUGAL

FOI BONITA A FESTA, PÁ

"Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto do jardim"
(CHICO BUARQUE DE HOLANDA)

11 abril 2007

O PARASITISMO HUMANO

Retomo, depois de algum tempo sem postar, as minhas impressões sobre as pessoas, o mundo e os objetos que vinha registrando nesse espaço já há algum tempo.

Ultimamente venho tentando com grande esforço, por circunstâncias muito particulares, observar o comportamento de pessoas que tendem para um grau elevado daquilo que Machado de Assis, por meio do Bentinho, ao se referir injustamente à Capitu, chamou de “dissimulada” (encobrir, ocultar com astúcia; fingir; disfarçar).

Pessoas com esse perfil são extremamente meticulosas em suas decisões, pois não querem ceder nada daquilo que inicialmente planejaram como sendo o fim último de suas ações, sejam elas gerais ou específicas, buscando o mínimo de trabalho para si e explorando o máximo de outras pessoas. O pior defeito moral desse tipo de indivíduo, é que normalmente este fim último, só interessa a eles próprios. No senso comum, seriam designados como aqueles que são capazes de vender até a mãe em proveito próprio. Quando percebem alguma resistência para atingir o que almejam, dão voltas, feitos gatos rabugentos até conseguirem do outro o que eles desejam.

Uma descrição mais simplista, porém esclarecedora, sobre a forma e a tipologia dos seus comportamentos é o que a biologia definiu como parasitas (comensal), ou seja, organismo que vive à custa de outro (o hospedeiro); pessoa que vive à custa de outrem; que vive à custa alheia. Em alguns casos, o parasita suga toda a vitalidade do hospedeiro, inviabilizando a sua sobrevivência. Lembrando que o Bruxo de Cosme Velho, também explorou bastante esta conotação na descrição comportamental e psicológica de alguns de seus personagens.

No mais, espero que tenha estômago para sobreviver a essa espécie que vinha tentando evitar de maiores proximidades comigo, mas como em tudo sempre há um lado bom, posso aprender bastante, principalmente com as artimanhas efetuadas por esses organismos, para atingirem os objetivos habilmente premeditados.

Dica de leitura:

“Viana era um parasita consumado, cujo estômago tinha mais capacidade que preconceitos, menos sensibilidade que disposições. Não se suponha, porém, que a pobreza o obrigasse ao ofício; possuía alguma coisa que herdara da mãe, e conservara religiosamente intato, tendo até então vivido do rendimento de um emprego de que pedira demissão por motivo de dissidência com o seu chefe. Mas estes contrastes entre a fortuna e o caráter não são raros. Viana era um exemplo disso. Nasceu parasita como outros nascem anões. Era parasita por direito divino.” Ressurreição (Capítulo I: No dia de ano bom) por Machado de Assis

24 fevereiro 2007