"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

25 abril 2007

FESTA PARA PÁ E LUTO PARA CÁ

Nós aqui no Brasil, diante de diversos problemas, muito deles herdados do país que inspirou o Chico na composição de "Tanto Mar" (abaixo), estamos precisando fazer a nossa própria festa de libertação do povo brasileiro, na construção de uma nação próspera e sem tantas discrepâncias sociais. Que tenhamos uma elite (seja financeira, industrial, comercial...), mas uma que se preocupa com o desenvolvimento e o bem estar do país; que tenhamos trabalhadores, mas também comprometidos com o mesmo ideal. Quero que seja "primavera" aqui. São 507 anos, que comemoramos no dia 22 de abril, de invernos tenebrosos de EXPLORAÇÃO. Aqui não se comemora muito essas datas, ainda não somos um povo, infelizmente, não temos orgulho de nosso país e sim vergonha. Os 507 anos, nem se quer foi lembrado pelo povo, pois estamos preocupados com mais um escândalo de corrupção e acompanhando as mesmas estratégias de canalhas corporativistas, para que nenhum dos suspeitos seja punido, da mesma forma que tantos outros do poder legistativo e do executivo sairam ilesos de um escândalo que ainda nem esfriou. As instituições públicas aqui, estão cada vez mais corruptas. Não se discute melhorar nada, parece que o projeto de povo se encontra anestesiado vendo os atuais abutres criando estrátegias para manter um sistema doente que impede que sejamos um povo brasileiro. Estamos carentes, será que ainda tem um pouco de alecrim para nos mandar?



1975
(primeira versão)*

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.


Segunda versão - 1978
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
CHICO BUARQUE DE HOLANDA

25 DE ABRIL EM PORTUGAL

FOI BONITA A FESTA, PÁ

"Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto do jardim"
(CHICO BUARQUE DE HOLANDA)

11 abril 2007

O PARASITISMO HUMANO

Retomo, depois de algum tempo sem postar, as minhas impressões sobre as pessoas, o mundo e os objetos que vinha registrando nesse espaço já há algum tempo.

Ultimamente venho tentando com grande esforço, por circunstâncias muito particulares, observar o comportamento de pessoas que tendem para um grau elevado daquilo que Machado de Assis, por meio do Bentinho, ao se referir injustamente à Capitu, chamou de “dissimulada” (encobrir, ocultar com astúcia; fingir; disfarçar).

Pessoas com esse perfil são extremamente meticulosas em suas decisões, pois não querem ceder nada daquilo que inicialmente planejaram como sendo o fim último de suas ações, sejam elas gerais ou específicas, buscando o mínimo de trabalho para si e explorando o máximo de outras pessoas. O pior defeito moral desse tipo de indivíduo, é que normalmente este fim último, só interessa a eles próprios. No senso comum, seriam designados como aqueles que são capazes de vender até a mãe em proveito próprio. Quando percebem alguma resistência para atingir o que almejam, dão voltas, feitos gatos rabugentos até conseguirem do outro o que eles desejam.

Uma descrição mais simplista, porém esclarecedora, sobre a forma e a tipologia dos seus comportamentos é o que a biologia definiu como parasitas (comensal), ou seja, organismo que vive à custa de outro (o hospedeiro); pessoa que vive à custa de outrem; que vive à custa alheia. Em alguns casos, o parasita suga toda a vitalidade do hospedeiro, inviabilizando a sua sobrevivência. Lembrando que o Bruxo de Cosme Velho, também explorou bastante esta conotação na descrição comportamental e psicológica de alguns de seus personagens.

No mais, espero que tenha estômago para sobreviver a essa espécie que vinha tentando evitar de maiores proximidades comigo, mas como em tudo sempre há um lado bom, posso aprender bastante, principalmente com as artimanhas efetuadas por esses organismos, para atingirem os objetivos habilmente premeditados.

Dica de leitura:

“Viana era um parasita consumado, cujo estômago tinha mais capacidade que preconceitos, menos sensibilidade que disposições. Não se suponha, porém, que a pobreza o obrigasse ao ofício; possuía alguma coisa que herdara da mãe, e conservara religiosamente intato, tendo até então vivido do rendimento de um emprego de que pedira demissão por motivo de dissidência com o seu chefe. Mas estes contrastes entre a fortuna e o caráter não são raros. Viana era um exemplo disso. Nasceu parasita como outros nascem anões. Era parasita por direito divino.” Ressurreição (Capítulo I: No dia de ano bom) por Machado de Assis