"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

27 maio 2009

PARODIANDO

SAÍNDO DA CAVERNA

Até alguns anos atrás eu vivia presa no fundo de uma caverna, imobilizada pelas correntes que me atava, a olhar sempre para a parede em minha frente. Enxergava apenas as sombras dos objetos, que alguns prisioneiros carregavam para lá e para cá, sobre suas cabeças: estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros objetos. Estas sombras surgiam e se desfaziam diante de mim. Acreditava que as imagens fantasmagóricas que apareciam diante de meus olhos eram verdadeiras, tomava esses espectros pela realidade. A minha existência era inteiramente dominada pela ignorância. Estava condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida que as sombras eram realidade.

Entretanto um dia, um Sábio, de uma das mais sublimes artes: a literatura, entrou dentro da caverna e libertou esta pobre diaba de sua pesarosa ignorância e me levou com todo o cuidado para longe daquela caverna.

Num primeiro momento, quando cheguei do lado de fora, nada enxerguei, os meus olhos doíam pela extrema luminosidade do sol. Mas depois, comecei a desvendar aos poucos, com a ajuda daquele Sábio, as manchas e as imagens. Hoje sei que é doloroso chegar ao conhecimento e que tenho que percorrer caminhos bem definidos para alcançá-lo. Sendo preciso, que eu a todo instante rompa a inércia da minha ignorância e isso, requer muitos sacrifícios.

Ainda me encontro, na primeira etapa que passa os que saem da caverna. Não consigo captar na totalidade a realidade. Vejo apenas algo impressionista flutuar na minha frente, mas persisto com um olhar inquisidor, na tentativa de ver o objeto na sua integralidade, com os seus perfis bem definidos. Na tentativa de atingir o conhecimento, de ficar extasiada ao me deparar com um outro mundo, totalmente oposto ao do subterrâneo em que fui criada.

Desejo que o universo da ciência; das artes, principalmente a literatura e do conhecimento geral se escancarem perante a mim, para que eu possa então vislumbrar com o mundo das formas perfeitas.

Não quero mais pertencer ao território do homem comum, presa às coisas do cotidiano. Prefiro ser hostilizada por eles, que não acreditem em mim, que imaginem ser eu uma excêntrica, uma extravagante, uma retardada. Formas estas, que são tratados aos que saem da caverna e tentam dizer o que descobriram fora dela.
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