"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

11 dezembro 2004

"JUDAS, O OBSCURO", DRAMA E TRAGÉDIA DE NOSSA CIVILIZAÇÃO

É indiscutível que o século XIX e o XX vão ambos ficar caracterizados, literariamente, pelo predomínio quase absoluto do romance como gênero literário. Ora, dentro do romance, também é fora de dúvida que a Inglaterra não cede um passo a França na luta pela primazia mundial. Ainda seguindo o mesmo critério de excelência, ninguém negará que, na Inglaterra, Thomas Hardy pertence a uma categoria absolutamente ímpar, junto com Dickens, Meredith, Falsworthy, Lawrence e alguns poucos outros. E com mais certeza ainda se poderá afirmar que, na obra de Thomas Hardy, nenhum romance pode disputar a primazia a “Judas, o Obscuro”.

Resulta, portanto, de tudo isso, que este romance é, inegavelmente, uma das maiores obras-primas que a humanidade possui e um dos livros que mais fielmente podem refletir o drama ou a tragédia que a nossa civilização vive. Toda a problemática do homem moderno, na sua vida íntima, aí está refletida, graças à extraordinária sensibilidade e ao excepcional poder criador de perfeitas incarnações do homem sensível e delicado, bom e puro, que a máquina impiedosa das convenções sociais e dos egoísmos individuais não hesita em esmagar, sem nem sequer desconfiar da desgraça que está ocasionando. Mas, que pode ele fazer senão ser ele mesmo? E pode ela fazer senão ser ela mesma? Judas não só não conseguirá construir o seu futuro, realizar os sonhos de infância, como nada poderá fazer contra o seu destino de perseguido e de eterno ignorado. Desconhecido, incompreendido, enganado, só poderá responder aos golpes da vida com a pureza do seu gesto, tantas vezes repetido, de desvendar inutilmente aos olhos de todos o seu coração de homem. Os que o rodeiam viram então a face, porque suas feridas ferem a eles próprios. Não o compreende, na cegueira dos seus pequenos preconceitos de mulher conscientemente inteligente demais para o seu meio, a criatura que ama e amará a vida interia acima de todas as coisas. E a outra é só mentiras e engodo. Uma e outra dele só se aproximarão para reforçar, de um dos modos mais trágicos a que já nos foi dado assistir, o grito lancinante do poeta contra a mulher: “Tu n’es jamais la soeur de charité, jamais!”.

Por outro lado, o que torna ainda maior e mais classicamente trágico “Judas, o Obscuro” é que essa verdadeira Biografia de um fracassado foi escrita por um dos homens que mais profunda e mais delicada, mais piedosamente, souberam se inclinar sobre o sofrimento humano. Poucos livros serão mais tristes – amargo, nas suas páginas finais, com poucos livros terão sido amargos. Poucos possuem, em tão alto grau, o sentido da tragédia humana, no que ela tem de mais absolutamente insolúvel e eterno. Acompanhando Judas, passo a passo, no seu terrível calvário, é o próprio homem que Thomas Hardy acompanha. É o Absoluto que se atinge, através dessa experiência de homem, e de homem em luta com as realidades sociais de usa época. E é por isso que o valor da obra me parece inexcedível, como inexcedível é a sua importância para a nossa experiência individual.
Octávio de Faria – Tradutor do romance – Judas, o Obscuro – de Thomas Hardy, em Nota Preliminar – ed. Itatiaia – 1958.

6 comentários:

Anônimo disse...

É, sem dúvida, como disseste, um dos livros mais amargos já escritos.
A atmosfera psicológica que descreve, com o entrelaçamento da forma como Judas sentia o mais nobre dos sentimentos humanos, o amor, e a falta dele, noutros personagens, é de uma forma nunca antes vista.

Realmente toca sensíveis como os personagens (e como eu).

Anônimo disse...

comprei o livro por 1 real na feira da providencia (centro do rio de janeiro) la tb tinha shakespeare kkk tudo por 1 real foi realmente uma sorte a minha... ja estou quase na metade do livro e ele não parece tão triste assim, leonardost2005@gmail.com

Anônimo disse...

li este livro por indicação de um colega pegueio na biblioteca,e eu achei uma historia de amor muito bonita,onde duas pessoas se prendem de tal forma .confesso que no final achei muito triste ,deprimente saber que duas pessoas se amram tanto.Fico imagino eles vivendo juntos tentando fugir de algo que talvez fosse inevitavel mais aproveitaram e chegou ao fim ,não só de uma historia mais de descendecia da familia Fawley acabou.

Danilo Valêncio disse...

Esse concerteza é um dos maiores romançes já escritos, é muito triste, a jente ler e sente dor e pena por causa do personagem, realmente vale a pena ler JUDAS O OBSCURO, um belo livro.

Anônimo disse...

Puxa! li esse livro há muitos anos e gostaria de lê-lo novamente. Aliás, ele é sempre citado por mim como o meu livro preferido.
Onde posso encontrá-lo?
Paula Soares.

Anônimo disse...

Achei o começo ótimo, mas foi ficando chato... Ele deu o azar de se apaixonar pela mulher mais xarope da Inglaterra... e arrastava um caminhao de merda por ela... Kkkk! A parte dos filhos é chocante, mas o final já era esperado...