Tolstoi, no conto "A morte de Ivan Ilitch", escreve um maravilhoso tratado sobre a existência humana. Fugir da realidade da vida, encená-la em papéis assumidos no cotidiano, é possível, mas quanto a morte, não! E é isso, o verdadeiro horror, a ser enfrentado por todos os homens.
A morte do outro, se apresenta ao vivente como uma mistura de medo e indiferença. O indivíduo acredita ser imortal, e que mortal são apenas os outros, no entanto, diante da precariedade da milagrosa dedução, carrega consigo a dúvida de sua imortalidade. E, mesmo com o corpo falecendo aos poucos, tenta ignorar a morte e entrega-se a uma vacilante esperança, até nos últimos suspiros de vida.
Em meio as indagações do porque viver e morrer, o personagem, Ivan Ilitch, percebe a mentira que foi a sua existência e a da sociedade em que vive. Enoja-se e tem pena daqueles que diante da mentira em que vivem ignoram tanto a vida, quanto a morte. Vê que quanto mais instruídas são as pessoas, maior é a fuga, a indiferença e a representação daquilo que chamam de vida. Distanciam-se da simplicidade, da realidade e consequentemente do sofrimento alheio. O único sentimento que conseguem compartilhar é o medo. E têm como saldo uma existência inautêntica.
Apesar de ser um juiz, Ivan, sente a necessidade de ser acariciado e de cuidados, porém apenas um empregado, que o servia como enfermeiro, é que irá perceber a sua carência e será capaz de lhe oferecer um pouco de conforto, a esta alma solitária. Ivan, descobrirá que amor não tem nada haver com a inteligência. Este pobre mujique, não terá nojo de limpar as fezes deste doente, não se cansará de passar as noites em claro, segurando o pé deste ser humano que se definha aos poucos. O mujique sabia, que todos estamos sujeitos à morte, e que amenizar a agonia de quem está mais próximo dela, é o mínimo que se pode fazer.
Portanto, não foi em sua vida familiar ou profissional, que Ivan encontrou autenticidade, honestidade e amor, mas com um camponês rude. A leitura do conto, nos faz viver a magnífica experiência de aprendizagem e aceitação da morte. Lendo-o morremos com Ivan Ilitch.
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