Generalizando, pode-se dizer que as ciências humanas e sociais não estão respondendo, através de suas pesquisas, aos problemas que a sociedade vem vivenciando. Na tentativa de fazer alguma elucidação, os pesquisadores recorrem à repetição de teorias, que outrora tiveram a sua importância, porém hoje, elas tornam o discurso vazio de sentido e vago, em grande parte das publicações.
A necessidade dos pesquisadores de estarem dentro de uma instituição acadêmica, é um dos fatores que colaboram para o emudecimento dessas ciências. Pois hoje, estas instituições são importantes pólos no financiamento de pesquisas em diversas áreas e oferecerem uma cômoda legitimação institucional ao profissional que realiza o seu estudo nelas. Estes dois fatos colocam um número considerável de profissionais condicionados a estas verbas e a segurança na divulgação da pesquisa. E isto torna-se, um dos obstáculos para um olhar diferenciado sobre a sociedade. Visto que, estas instituições são restritivas quanto ao valor do financiamento, porque são obrigadas a desdobrá-lo em outras áreas.
Outro fator, é o aspecto metodológico e as malditas linhas de pesquisas, impostos aos pesquisadores para terem a pesquisa reconhecida pela comunidade cientifica. As universidades no caso do método cientifico, segue-o como um dogma, utilizando-o como uma receita, um paradigma intransponível. Já as linhas de pesquisas são definidas de acordo com interesses interno da instituição e não com os problemas enfrentados pela sociedade. O método clássico, instituído pelo positivismo para verificação e confirmação das hipóteses levantadas, é hoje, no caso das ciências humanas e sociais, muito limitativo, visto que o universo humano é muito complexo e transitório e as intervenções tem que ser muito mais dinâmicas.
O último fato, é a atuação dos orientadores na pesquisa, uma vez que, quando ocorre do pesquisador ter alguma idéia diferente para realizar a sua pesquisa, ele é literalmente impedido, pelo orientador de ir em frente. Sendo a atuação desses ditadores da "ciência" muitas vezes conservadoras, e para um pesquisador, a liberdade é extremamente necessária. Quanto as orientações importantes para o embate reflexivo, podem muito bem ser adquiridas através de uma extensa bibliografia existente, sobre diversos temas e de fácil acesso, e pela própria experiência de êxito e fracasso no momento de se verificar as hipóteses. No entanto, deve-se salientar que para isto, o pesquisador tenha a humildade de reconhecer as suas falhas e ouvir outras visões, sem com isso, tornar-se um boneco de fantoche das idéias de alguém ou da própria pesquisa.
Diversos exemplos, de excelentes pesquisas, podemos encontrar na história, que deram um novo rumo às ciências humanas e sociais. Quando recorremos às obras de Marx, Freud, Weber e alguns outros, ícones das pesquisas realizadas na área humana e social dos dois últimos séculos, esquecemos que as suas pesquisas foram pensadas e elaboradas fora das academias. Marx, dedicou a sua vida à obra, elaborada dentro da biblioteca e cortiços de Londres, financiada pela sua pobreza, pela morte de seus amados filhos, pela compreensão de sua mulher e pela tamanha generosidade de Engels, que muitas vezes assumiu a direção dos negócios do pai, tornando-se um burguês em atividade, para poder mandar dinheiro ao Marx, que trabalhava em extrema miséria em Londres. Freud, quando começou a publicar as suas pesquisas, no final do século XIX, já havia começado a ditadura do desenvolvimento cientifico, apenas dentro das universidades, foi durante muito tempo ridicularizado, apesar de seu rigor metodológico. Não foi poupado por sua independência. Weber, teve que sumir durante dez anos, para florescer as suas brilhantes idéias e tornar-se um dos mais notáveis sociólogos do século XX.
Contudo, não devemos perder de vista o caráter generalista destas afirmações, pois existem algumas ilhas que norteiam o pouco progresso alcançado nas últimas décadas nestas ciências. Mas que foram insuficientes, diante de tantas transformações as quais vem passando o mundo em que vivemos.
Portanto, para tirar as ciências humanas e sociais de seu emudecimento, ou melhor dizendo, de sua gagueira, os pesquisadores devem parar de ficar apenas atrás dos laboratórios, fabricando estatísticas e teorias vazias e começarem a ver que o melhor campo de pesquisas são as pessoas inseridas no mundo. Coragem para não ter medo de fazer indagações sobre o homem e a sociedade, estudar muito e receber como prêmio as vaias, a indiferença e tantas outras coisas típicas de quem aceitou a viver de sua única tese, de quem nunca gostou de conhecer nada, que quiz apenas o título de doutor. Como diz uma das pessoas mais esclarecidas que conheço, ficaram a vida inteira falando da tese que escreveram.
P.S.: Agradeço a R. por me ensinar o que é ciência, não à que se encontra nos manuais de procedimentos científicos, mas a que esta fora das algemas, de olhar crítico e criterioso sobre a sociedade e a própria pesquisa. E ao É. por me ensinar que nem todos estão preocupados em aprender. E o que é dito, não é para ser entendido por todos. Para exemplificar isto, ele usa como metáfora a pergunta feita a J.C. por um apóstolo, quando perguntava-lhe, por que se expressava sobre a forma de parábola e ele o respondeu que era para que todos ouvissem, mas para que nem todos compreendessem.
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