"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

11 dezembro 2005

DESABAFO

Antes de começar a reclamar de um item do edital do vestibular da UFMG, gostaria de deixar bem claro, que não compartilho das opiniões que hoje estão em voga de: “cotas raciais”, “cota pobreza” (porque no Brasil, público se confunde com pobreza), e outras tantas idiotices que a reforma universitária vem tentando implantar no ensino público superior. Neste caso, poucos pobres e negros não tem acesso a universidade pública, não porque ele seja pobre ou negro, mas porque teve uma péssima educação básica, esta sim, sem nenhuma perspectiva de melhora.

Sou da opinião que para se ter igualdade no ingresso do ensino superior público, deve-se investir pesado na educação básica: com muitos laboratórios de física; química; biologia (desde o anos iniciais do ensino fundamental); ensino de matemática; ou seja álgebra e geometria, pois os professores dessa matéria ensinam os 11 anos, apenas álgebra e quase sempre o B A BÁ, até Hitler sabia que para emburrecer um povo, não se deve ensiná-los matemática, apenas álgebra; português com muita produção de texto (diversos), eu mesma, raras foram as vezes que um professor mandava fazer uma produção de texto, normalmente no início do ano mandavam fazer uma com o tema ”as férias”, isto porque redação dá trabalho para corrigir, e os professores com o péssimo salário que recebem, para sobreviver têm que trabalhar em até três turnos, em escolas diversas, e realmente não tem como corrigir nada, apenas dão aulas. É a educação no Brasil, em frangalhos.

Mas vamos ao que interessa, depois do Estado me oferecer a pior educação possível e mais os atropelos da vida, concluí o ensino médio precisando de voltar para o primário. Nos onze anos estudados, no meu tempo ainda havia retenção, o que garantia um mínimo de qualidade, não houve um ano se quer, que o processo não era interrompido por greves, que rara as vezes duravam menos de 60 dias. Nunca foi feito uma reposição de verdade dos dias parados, para os professores fingir que foram feitas a reposição das aulas é uma espécie de greve branca, visto que em quase todas as greves saem derrotados, então o jogo passa a ser o seguinte: “o governo exigi a reposição”, a escola monta um calendário de reposição, que normalmente é aos sábados, aí quase ninguém aparece nessas aulas, nem professor, nem aluno. Então, levando-se em consideração a LDB, que exige duzentos dias letivos, se houve uma greve de 60 dias letivos, o Estado passa a oferecer apenas 140 dias letivos. Outro agravante são as malditas reuniões feitas nas escolas dentro do horário de aula, que leva a dispensar os alunos e passam outra vez a “comer” os míseros dias letivos, como regra nas escolas, toda sexta-feira têm reunião, então a semana escolar passa a ser de quatro dias, ao invés de 5 dias. Como falar em qualidade na educação depois de relatar uma situação destas. E sem nenhum exagero, isto ocorre de norte a sul, em todo o Estado de Minas Gerais, tanto na esfera estadual quanto na municipal, sem exceção.

Ainda assim, mesmo tendo concluído o ensino médio semi-analfabeta, consegui ingressar em uma faculdade privada. No entanto, como as mensalidades não são nada baratas, tive que parar o curso e resolvi estudar para o vestibular na UFMG. Qual foi a minha conclusão no início dos meus estudos, não tinha a menor condições de concorrer no vestibular, se realmente não fizesse toda a educação básica de novo: onze anos jogados fora no esgoto. Não sabia nada de química, física (não pasmem, mas sinceramente, nunca tive uma aula sequer dessas duas matérias nos onze anos de estudos), biologia, matemática (geometria/função), não sabia nem sequer escrever, coisa que venho aprendendo ainda hoje. Passei os anos de 2003, 2004 e 2005 estudando o que podia para conseguir concorrer a uma vaga do curso de direito da egrégia Universidade Federal de Minas Gerais. No vestibular de 2003, como seqüelas de toda a minha educação, fiz uma péssima prova na primeira etapa, realmente não tinha a menor condições de ir para a segunda etapa do vestibular. Mas em 2004 e 2005, considero ter sido vítima da burrice do edital dessa instituição, que tem como regra para ir para a segunda etapa no caso do curso de direito (muito concorrido) “que os candidatos que fizer 72 pontos ou mais, e pelo menos cinco pontos em cada matéria são classificados para a lista prioritária e são chamados até que haja, no máximo, três concorrentes por vaga”. A conseqüência dessa regra é a seguinte: vai para a segunda etapa pessoas que em total de pontos tirou menos que você. Veja só o absurdo: são distribuídos 120 pontos na primeira etapa, 15 para cada disciplina (matemática, português, história, geografia, língua estrangeira, química, física e biologia), caso você tire 15 pontos, em 7 disciplina e em uma delas você tem a infelicidade de tirar apenas 4 pontos, você está eliminado, no caso do curso de direito para a segunda etapa do vestibular. Ou seja, neste caso, a pessoa tirou em total de pontos 109 em 120 distribuídos e não foi para a segunda etapa. Outro, que tirou 72 pontos no total e não tirou em nenhuma matéria menos de 5 pontos foi. Este foi o meu caso em 2004, fui de muito bom a excelente em 7 disciplinas e em matemática tirei 4 pontos e por isto não consegui ir para a segunda etapa do vestibular da UFMG, depois de vários meses a universidade divulgou a nota de corte desse ano, e verifiquei que quem foi para a segunda etapa tirou em total de pontos, nota muito menor do que a minha. Neste ano, por infelicidade o fato voltou a ocorrer, e provavelmente irá para segunda etapa um candidato, no geral, menos preparado do que eu.
Sinceramente, gostaria que as pessoas que são responsáveis por discutir as mudanças no vestibular das instituições públicas, estivessem discutindo regras idiotas como esta relatada e não uma forma de destruir a qualidade do ensino oferecido por essas instituições.

2 comentários:

Anônimo disse...

que horror, maria.
abçs solidários.

João Batista disse...

ENVERGONHADO

Maria,
Essa idiotice da UFMG não é recente, acontece há anos por causa dos encastelados da classe opressora que lá estão. Professores (??) que sempre dizem estou aqui para pesquisar e não para dar aula.
Mas, como é ensino superior gratuito as pessoas devem tenra estudar lá, mesmo.
Continue tentando.

Um abraço,