"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

17 abril 2005

HÖLDERLIN: UMA ALMA DESPEDAÇADA

Filho de pastor protestante, quis seguir a vocação paterna. Em 1780 estudou teologia na Universidade de Tubingue, com colegas que se chamavam Hegel, Schelling. Deixou de crer. Conhecia Rousseau, Goethe, Schiller e o romantismo embriagava-o. Gostava de natureza misteriosa, da lúcida Grécia. Ama-as simultaneamente e sonha em unir suas belezas numa obra alemã. Era pobre e tinha que levar a dura vida do poeta necessitado. Professor, suportou o aborrecimento das casas ricas, em quase todas desprezado e em uma, muito querido: satisfação logo seguida pela desilusão. Volta à vila natal, onde as pessoas e o ar são doces. Trabalha, escreve todo o tempo de que dispõe, mas pesa-lhe viver à custa dos seus, e afasta-se. Manda imprimir alguns versos, e o público não gosta desses belos poemas, onde o gênio de um desconhecido faz os deuses do Olimpo passar pelas sombras das florestas renanas. O infeliz Hölderlin sonha criações mais vastas, mas retém o sonho: a Alemanha é um mundo, e a Grécia um outro mundo. È preciso a força de um Goethe para as unir e fixar as palavras eternas de Fausto, raptor de Helena. Hölderlin escreveu fragmentos de um poema em prosa. Seu herói é um jovem grego que se lamenta da ruína de sua raça, e, frágil precursor de Zarathustra, clama pela renascença de uma valorosa humanidade. Compôs três cenas de uma tragédia cujo herói é Empédocles, tirano de Agrigente, poeta, filósofo, grande inspirador das multidões, grego isolado, por sua própria grandeza, entre os gregos, mágico que, possuindo toda a natureza, cansa-se das satisfações que a vida pode oferecer e se retira para o cimo do Etna, deixando a família, seus amigos, seu povo que o quer, e, um dia, ao nascer da noite, atira-se na cratera. É obra de fôlego: Hölderlin abandona-a. A tristeza o enfraquece e exalta. Quer deixar a Alemanha, onde tanto tem sofrido, e libertar os seus de sua vida incômoda. Propõem-lhe um emprego em bordeis, na França, e ele desaparece. Seis meses mais tarde, volta ao lar, vestido de farrapos, queimado pelo sol. Interrogam-no, mas ele nada diz. Procuram informar-se e, após grande trabalho, vêm a saber que ele atravessou a França a pé, sob o sol de agosto. Sua inteligência está perdida. Ele acaba-se, abisma-se num torpor que dura quarenta anos. Morre em 1843.

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