"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

08 julho 2007

A MORTE POR INANIÇÃO INTELECTUAL DE UMA CIÊNCIA



A antropologia, dentro dos diversos modelos de análise que desenvolveu ao longo de sua estruturação epistemológica, chegou a conclusão que não é prudente fazer a análise de um ‘objeto’ fora do seu contexto. No entanto, não acatarei essa premissa. Farei a crítica do vídeo aqui exposto, desconsiderando todo o seu contexto, do qual desconheço. Por este motivo poderei cometer equívocos, porém ao assisti-lo vi que era um bom exemplo para discorrer sobre os erros cometidos pela psicologia, o que vem fazendo com que perca a sua identidade, e o pior, passando a atuar de maneira banalizada e medíocre.

Ao ver o filme tive um acesso de horror, misturado com pena e decepção. Espera-se que um psicólogo, ao fazer uma intervenção num grupo, que tenha o mínimo de compreensão sobre os indivíduos do qual vai atuar. Quando vejo como se trabalha com grupos que se encontram dentro de instituições, muitas vezes desprovidos de tantas coisas essenciais e simples, no caso de asilos, por exemplo, é muito comum, perceber-se com poucos minutos de observação, como normalmente são grupos fragmentados. Eles se isolam do contato entre eles próprios.

No entanto, com o intuito de inverter esse quadro, muitos profissionais da psicologia costumam ignorar que nós seres humanos vivemos fases de vida, e isso é muito significativo para a nossa subjetividade. Não há coisa mais grotesca com o sujeito que ignorar isto. As crianças querem ser crianças; os adolescentes querem ser adolescentes; adultos querem ser adultos; e quando chega-se na velhice, o saudável é que se valorize essa nova etapa da evolução do indivíduo. As pessoas ao confundir, muitas vezes, velhice com morte e decadência procuram criar alternativas que exclua essa etapa da vida e passam a sugerir a regressão às pessoas, para um tipo, principalmente, adolescente contemporâneo. Traduzindo a mensagem que pude perceber com o vídeo, “olha, esqueça a velhice e vamos ser eternamente jovens”.

Eu duvido muito que esses senhores e senhoras que aparecem no vídeo, se fosse perguntados que tipo de comemoração que gostariam de fazer, se eles sugeririam esse tipo de festa que foi apresentada. Eles têm uma história do qual viveram e vivem e com certeza gostariam de expressá-la, porém são coibidos dentro desse modelo de sociedade de viver essa fase, junto com outras gerações, pois a velhice incomoda os jovens e os adultos e eles não querem saber de nada que os façam lembrar dela. O asilo é na verdade um local de exclusão de um fato que a nossa sociedade não suporta: a finitude. E como se confunde velhice com isso, escolheu-se um lugar em que pudessem afastar para bem longe a realidade que tanto se ignoram. Desta forma, senhores e senhoras são coagidos em nome da inclusão, a passar por esses constrangimentos de dançar um protótipo da "dança da garrafa brasileira".

A principal ferramenta de trabalho do psicólogo é a escuta. Porque é por meio dela que se pode compreender o sujeito, e assim, a partir daí, indicar algumas alternativas que visem a promover o potencial individual de cada um. O papel do psicólogo num primeiro momento é anular-se como sujeito, colocar-se em condições de igualdade ao sujeito ou grupo que se apresenta, para desta maneira iniciar o tratamento ou a intervenção. E não ficar reproduzindo estereotipo que a tantos faz sofrer, ao invés de libertar as pessoas, aumentam ainda mais o número de algemas.

É lamentável, mas a psicologia vem prestando um desserviço às pessoas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito do que escreveste sobre Judas, O obscuro.

Um abraço!