"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". João Guimarães Rosa

18 outubro 2004

SOBRE A OBRA DE HENRIQUETA LISBOA

Acentuava Mário de Andrade, a propósito de Prisioneira da Noite (1941), que havia nos versos de Henriqueta Lisboa "graça inquieta, simples e um pouco agreste, um pouco ácida, dos passarinhos", e divisava em seu lirismo "uma carícia simples, dor recôndita em sorriso leve e frase contida. A poesia de Henriqueta Lisboa é de fato uma poesia de pudor, discrição, suavidade, ás vezes de leve encantamento com coisas ou palavras, por exemplo ao se deter no vocábulo ‘trasflor’: ‘Lavor de ouro sobre esmalte: / linda palavra – trasflor’." Essa dileção pela palavra nobre ou rara lhe dá às vezes certo preciosismo, e faz sua expressão artificializar-se um pouco, como se fosse o canto de cigarras sem sangue. Mas nos momentos de equilíbrio sua poesia assume aquele "leve tom cinza, cinza-pérola", que a poetiza deseja extrair da tarde. Essa dicção policiada às vezes se torna cálida como ricos perfumes: assim nos versos de Madrinha Lua (1952), livro sobre os velhos vultos e cidades de Minas Gerais, sobre cujos versos perpassa um luar de almíscar, um capitoso aroma de angélicas que floriram noutros séculos.
Henriqueta Lisboa estreou com Fogo Fátuo (1925), mas foi com os versos de Velário (1936) que transitou para a modernidade. Lírica reúne com exclusões seus versos até 1958.
AFRÂNIO COUTINHO – A LITERATURA NO BRASIL - Modernismo
Vol. V, 2º edição, 1970, pág. 180.

Obs.: O crítico literário Afrânio Coutinho, coloca Henriqueta Lisboa entre os poetas da segunda fase do Modernismo. Que ele considera, como sendo, os poetas surgidos de 1930 a 1945.
Nesta fase, os temas, antes circunscrito de modo geral à ambivalência brasileira, votam-se para o homem e seus problemas, como ser individual ou social: pode-se falar em fase de extensão de campos (ou, em certa designação, pós-modernismo).

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